Appetite for Destruction contra Slave to the Grind

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Meu irmão e eu conversamos durante aproximadamente uma hora sobre esses dois álbuns gigantescos gravados pelos ícones do Hard Rock Guns n' Roses e Skid Row.

Ouça o Episódio 02 do #SuperContraPodcast abaixo clicando no vídeo:


Roger Waters 2018: Quando um artista deve se manifestar sobre política?

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COMUNISTA. Esse foi o veredito exarado por parte do público que pagou caro para ver um dos fundadores do Pink Floyd e que saiu contrariado após o nome do seu candidato ter figurado o rol de potenciais Neo-Fascistas exibido no telão de proporções dignas do rock progressivo britânico.

Não é incomum, em tempos tão polarizados, que nos vejamos contrariados e até revoltados quando um ídolo da música no auge da paranoia solta um "VAMOS EXIGIR DO CONGRESSO NACIONAL O VOTO COM CÉDULA DE PAPEL (...)" em full caixa alta no twitter ou exibe um sonoro #EleNão pra milhares de pessoas à frente do seu palco. Somos condicionados a imaginar que nossa opinião reflita apenas aquilo que é certo e justo e portanto, como diabos o artista [INSIRA AQUI O NOME DA SUA DECEPÇÃO] pode ser tão burro? Certo?

Certo?

Errado.

Não que você esteja errado. Ou certo. A realidade é um pouco mais complexa do que costumamos querer que ela seja.

Opiniões controversas no meio artístico existem desde que Marty McFly inventou o roquinho, vão de de John Lennon a Dave Mustaine e é natural que existam. É esperado que existam. Seria esquisito se não existissem. Drogas, eleições, movimentos sociais, guerras, crime, religião, ditadura, sempre haverá um artista tomando partido seja lá de que tópico for. Temos por exemplo, um livro dedicado a diversas opiniões de Renato Russo sobre toda sorte de assunto, inclusive drogas  - como o Norvana - e até sobre outras bandas - Sepultura e Metallica, pra citar duas.

Queremos saber o que nosso ídolo pensa e queremos que ele pense igual a nós porque depositamos nossas expectativas nesses artistas.

Quando cantamos junto com Freddie Mercury a plenos pulmões durante a faxina do fim de semana nos sentimos um pouco como a maior voz que já saiu de qualquer alto-falante na história (calma, Little Richard, você ainda é o verdadeiro Rei) e se aquela voz e aquele bigode conseguem nos fazer sentir tão magníficos, ele só pode estar correto em tudo o que fala, não é mesmo? Enquanto que nosso cérebro entra em conflito quando um ídolo diz algo que bate de frente com nossas opiniões e, ultimamente, nossos valores, pois muitas vezes assumimos algumas premissas que não fazem sentido lógico, principalmente se tratando de política e problemas do nosso mundo moderno (se o compositor está certo nas suas letras, logo ele está certo em todo o resto e assim eu também estou certo já que sou fã dele).

Apesar de absurdo, assumir que um artista sempre estará correto porque "nunca discordei do trabalho dele" é quase sempre o caminho que tomamos. Sentimos prazer no conforto de uma ideia consoante à nossa e rejeitamos o conflito que surge quando são antagônicas. Estamos em um tempo em que as nuances foram esmagadas pela facilidade e conveniência das opções rasas e ao mesmo tempo absolutas. Época em que assuntos complexos estão sendo tratados com a devida análise de crianças de 10 anos e nesse contexto, é claro que os artistas se manifestarão de todas as maneiras, das razoáveis às mais esdrúxulas.

Como é possível que músicos profissionais sejam favoráveis a campanhas que evocam e defendem a própria censura artística, por exemplo? É descabido, quase paradoxal e ainda assim eles existem e declaram isso aos quatro ventos.



Deveria ser proibido? De jeito nenhum. Deveriam ter mais responsabilidade com a influência que possuem? O público é capaz de decidir por si próprio e quem não for, tem nas mãos um problema bem maior pra resolver.

Um artista - músico, ator, pintor ou jogador de futebol das antigas - é, antes de tudo um cidadão e antes ainda, uma pessoa com seus próprios desejos, ambições e medos e, embora possuam ampla visibilidade, também estão sujeitos a dúvidas e pairam sobre suas cabeças os mesmos questionamentos que possuímos você e eu.



 Então, se um Rockstar pode se declarar a favor de qualquer coisa por mais nefasta e perversa que seja aos seus olhos, resta lembrarmos que não somos obrigados a concordar com ele, ou segui-lo, ou assistir à participação dele na TV ou comprar seus discos. É até mesmo possível (há quem consiga!) apreciar a obra e rejeitar o autor. "Mas todo mundo tá acreditando no discurso dele no Twitter!" Bem, cada um sabe de si, não é mesmo? E como diria minha mãe, eu não sou todo mundo.